domingo, 2 de março de 2008

meias

Eram sete e meia.
O mais tarde que podias entrar era até às oito
e depois das oito tornava-se reparado.
Havia ordem no mundo
e meia hora para nós,
meia hora que não foi como queríamos
meia hora em que cada um de nós se prejudicava
habituados que estávamos a não nos termos visto nunca.
Levámos meia hora a combinar outra hora para nós
meia hora que afinal só começou depois de terminada
ao despedirmo-nos até à vista.
E até tornar a ver-te
eu não senti, nem a fome, nem a sede
nem outra vontade senão tu,
fiz como os poetas
que apagam a realidade
para lhe pôr outra melhor por cima.

Almada Negreiros

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